A Universidade
Federal de Viçosa proporciona iniciativas de extensão universitária às pessoas
idosas de Viçosa que muito contribuem para o bem-estar e a qualidade de vida do
grupo etário 60+ e de todos.
O surgimento de uma
política para o envelhecimento no Brasil traz como princípio que o
envelhecimento diz respeito a toda a sociedade e não apenas à população idosa.
Qual o lugar onde se juntam pessoas de diferentes faixas etárias, embora mais
comumente estejam lá os jovens? Sim, as universidades. Os jovens estudantes
convivem com professores das mais diversas idades, em interações baseadas no
acúmulo de reflexões típico do avanço da idade.
É na universidade
onde as ideias germinam e o envolvimento de professores e estudantes com as
mais diferentes possibilidades de temas da extensão universitária junta olhares
sobre a sociedade para a seleção de problemas sociais a serem investigados,
esmiuçados e conhecidos através da prática, da pesquisa-ação, da realização de
eventos que conjuguem aprendizagens e oferta de oportunidades à comunidade onde
intervêm.
Boas práticas de extensão universitária para pessoas
idosas
Segue aqui um
exemplo de iniciativas de extensão universitária com idosos, realizadas pela
Universidade Federal de Viçosa, a partir de três grupos de pesquisa vinculados
a departamentos e também a uma ação em parceria com uma universidade privada
situada em município vizinho a Viçosa, além de colaborações com as prefeituras
de Viçosa e de Ponte Nova.
Para relatar essas
iniciativas, nossas reflexões se baseiam nos conceitos de ‘Longevidade’ como
duração da vida, tempo de vida, duração
da vida mais longa que o comum. E ‘Envelhecimento’ como processo de
avanço da vida durante seu tempo de duração – o avanço da vida ao longo dos anos. Atualmente, a grande relevância da
longevidade se revela no expressivo aumento da expectativa de vida nas décadas
recentes, afetando a vida orgânica, com reflexos sociais.
O prolongamento da expectativa de vida explicitou características da vida
orgânica antes desconhecida por que se vivia menos tempo e tornou mais premente
a promoção da saúde como prática para a vida toda, para as gerações todas, de
modo a preservar bem-estar e qualidade da existência – que são perdidos quando
a saúde é ameaçada. A Promoção da Saúde se refere às ações para a transformação
das condições de vida, entendida como “recurso
para a vida e não como objetivo de viver”, que inclui “capacitação da
comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo
uma maior participação no controle deste processo” (Carta de Ottawa, OMS, 1986).
Sua natureza coletiva aparece em valores expressos na Política Nacional de
Promoção da Saúde, como solidariedade, corresponsabilidade e inclusão social,
entre muitos outros.
Outra importante
referência para iniciativas de extensão universitária é a Política Nacional do
Idoso – PNI - (Brasil, 1994) em seu objetivo de “assegurar os direitos sociais
do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e
participação efetiva na sociedade”. A efetividade da PNI demanda que o cidadão
conheça seus direitos a fim de exercer sua cidadania.
Há muitos desafios
ao bom envelhecer. Aqui vamos perpassar por dois deles, pela sua decisiva
influência sobre o processo de envelhecimento, o bem-estar e a qualidade de
vida. Esta seleção é um recorte dos possíveis desafios enfrentados. Há muitos
outros.
Desafios Socioeconômicos
A vida individual e a coletiva dependem de diversos elementos
relacionados ao financiamento da vida ou à subsistência. A listagem destes 8 desafios
socioeconômicos não é exaustiva, havendo vários outros a serem enfrentados.
1. O acesso a água e a alimentos
é essencial e fator de influência na possibilidade de que a vida se desenvolva
satisfatoriamente e a saúde se mantenha. Estudo
das 100 maiores cidades brasileiras evidenciou 35 milhões de pessoas sem acesso
à água tratada (BRK Ambiental, 2020). Quanto a alimentos, o Programa Fome Zero
(iniciado em 2003) amenizou a situação da má nutrição, depois seguido pelo
Programa Bolsa Família. O governo federal conta com programas de segurança
alimentar, sem visibilidade e sem controle social.
2. A cobertura de saneamento
básico impacta na higiene e nas condições de vida. O mesmo estudo acima, realizado
em 100 das maiores cidades brasileiras sobre acesso a água, indica 100 milhões
de pessoas sem coleta de esgotos (representando 47,6% da população) e que
somente 46% dos esgotos produzidos no país são tratados (BRK Ambiental, 2020).
3. A existência, ou não, de renda
para os brasileiros ou o pequeno percentual do salário mínimo proporcionado a segmentos
da população para atender a demandas fundamentais, requerem mais discussão do
que está disponível.
4.
Crucial para a
vida, a Educação básica completa contribui para a compreensão da realidade, o
exercício da cidadania e a intervenção na sociedade. Em uma população geral
estimada em 212 milhões (Agência IBGE, 2020), “a proporção de pessoas de 25
anos ou mais de idade que finalizaram a educação básica obrigatória, ou seja,
concluíram, no mínimo, o ensino médio, passou de 47,4%, em 2018, para 48,8%, em
2019” (IBGE Educa, 2020).
5.
Aposentadoria e
trabalho são extensamente debatidos em vista da tendência da permanência de
grande número de trabalhadores 60+ nas empresas. O significado desse dado
confronta questões como abertura de espaço para trabalhadores mais jovens (Félix,
2016).
6.
Infraestrutura
Urbana adequada requer inúmeras “adaptações no espaço urbano com melhorias, por
exemplo, em calçadas, iluminação pública e acessibilidade”, entre diversas
outras (Costa, 2020).
7.
Moradia com
instalações apropriadas pode ser atingida com a “ampliação de programas
habitacionais obedecendo o percentual a ser reservado para pessoas idosas;
implantação de iniciativas do tipo “Casa Segura”” (Costa, 2020).
8.
Falta de
informação sobre a Seguridade Social e as políticas sociais dificultam o acesso
ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
Desafios Sociais
Resultados de
estudos mostram “a convivência como fator positivo para o processo de
envelhecimento, em contraposição à visão negativa do envelhecimento, carregada
de estigmas, preconceitos, estereótipos e de atos de discriminação por idade,
que podem precipitar o isolamento do idoso” (Costa, 2019). Estigmas,
preconceitos, estereótipos e de atos de discriminação por idade são barreiras
ao envelhecimento ativo.
Estigma é a “marca”
colocada no que rejeitamos para manter afastado de nós. No caso da velhice, é
melhor nem olhar para pessoas idosas por que nos lembram a proximidade da morte
e que teremos características físicas que ninguém quer para si, como rugas,
flacidez, lentidão de caminhar etc. (Elias, 2001).
O preconceito, por
exemplo, nos leva a evitar palavras como “envelhecimento, velhice” e usar
eufemismos como Terceira Idade, Melhor Idade, Envelhescente. Em muitos casos, preferimos
não revelar a idade ou disfarçamos dizendo “6.0” (Birman, 2015).
Já os ‘Estereótipos
Negativos’ aparecem na infantilização da pessoa idosa pelo uso do diminutivo
referindo a “sua comidinha, sua roupinha”. Há uma associação à incapacidade e à
infância. Além disso, a aposentadoria é vista como uma fase inútil da vida
(Monteiro e Villela, 2013).
A discriminação materializa
estigmas, preconceitos e estereótipos (Parker, 2013). Também chamada de ‘edadismo’,
‘etarismo’ ou no anglicismo ‘ageism’. Enfim, por meio de diversas visões
negativas, discriminamos pessoas idosas.
Respostas das
universidades aos Desafios
Levando em conta a
preparação da sociedade para a vida longeva e suas contribuições à promoção da
saúde e à efetividade de políticas públicas, há que destacar as iniciativas de
extensão universitária desenvolvidas por uma universidade mineira – a Universidade
Federal de Viçosa – por meio de três grupos de pesquisa de diferentes
departamentos envolvidos nas ações e em colaborações com uma universidade
particular além de projetos com prefeituras, conforme segue:
Universidade Federal de Viçosa (UFV)
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (Gegop)
vinculado ao Departamento de Administração e Contabilidade
Grupo de Pesquisa Risco Social e Envelhecimento (GRISE) vinculado ao
Departamento de Economia Doméstica
Grupo de Estudos e Práticas em Envelhecimento, Nutrição e Saúde (Greens)
vinculado ao Departamento de Nutrição e Saúde
Universidade Federal de Viçosa e Faculdade Dinâmica Vale do Piranga
(FADIP)
Universidade Federal de Viçosa e Prefeitura de Viçosa
Universidade Federal de Viçosa e Prefeitura de Ponte Nova
Em seguida, vale
conhecer a experiência portuguesa “Universidade
Sênior e RUTIS (Associação Rede de Universidades da Terceira Idade)”.
A concepção de uma
pesquisa sobre envelhecimento ativo levou o Grupo de Pesquisa Espaços
Deliberativos e Governança Pública (Gegop), vinculado ao Departamento de
Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Viçosa, a definir como
universo da investigação os moradores de uma rua sem saída, a Comunidade do
Beco, do município de Ponte Nova, vizinho a Viçosa. A coleta de informações,
primeira fase da pesquisa de campo, foi uma oportunidade para a interação com
os moradores da Comunidade do Beco, por meio de diversas atividades coletivas
pelos participantes, que se expressaram sobre suas vidas, assim resgatando sua
confiança. A iniciativa foi mais além da pesquisa, tornando-se um programa de
extensão.
O período de ativa
produção do Grupo de Pesquisa Risco Social e Envelhecimento (GRISE), vinculado
ao Departamento de Economia Doméstica, começou com a investigação sobre a “Face
da velhice em Viçosa”, desdobrando-se em atividades com as pessoas idosas,
captação de depoimentos sobre suas velhices - publicados em livro-, muitos
debates, dois eventos, rodas de conversa e mais dois livros. Houve
contribuições de diversos palestrantes e colaborações interinstitucionais.
A alimentação é
fundamental para que o processo de envelhecimento seja saudável e preventivo em
termos de declínio funcional. O Grupo de Estudos e Práticas em Envelhecimento,
Nutrição e Saúde (Greens), vinculado ao Departamento de Nutrição e Saúde,
reuniu nas OFICINAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: CULINÁRIA E SAÚDE - estudantes,
professores e idosos do Programa Municipal de Viçosa para a Terceira Idade para
vivenciarem o processo alimentar desde a concepção de cardápio, seleção de
ingredientes com as indicações de nutrientes e valor alimentício, até a
confecção de alimentos e fornecimento.
A colaboração entre
a Universidade Federal de Viçosa (UFV) com a Faculdade Dinâmica Vale do Piranga
(FADIP), situada em Ponte Nova, MG, gerou a exposição de estudantes de
Fisioterapia da FADIP, na III Semana da Farmácia, promovida pela Faculdade de
Farmácia em ação conjunta com a Faculdade de Fisioterapia e parceria com a UFV.
Tendo a empatia como base, a iniciativa buscava responder “Por que jovens
graduandos e pós-graduandos deveriam se preocupar com o próprio envelhecimento?”.
Como resultado, a Oficina “Eu jovem, não me preocupo com o envelhecimento”, em
dezembro de 2018, teve um relato de experiência premiado em 1º lugar no 10º
Simpósio de Ciência, Arte e Cidadania, promovido pelo Laboratório de Inovações
em Terapias, Ensino e Bioprodutos (Liteb/IOC/Fiocruz).
A UFV estabelece
parcerias com as prefeituras de Viçosa e de Ponte Nova, com diversas
iniciativas para a população idosa que muito contribuem para o envelhecimento
local.
E Portugal nos
ensina um novo modelo de espaço para iniciativas voltadas às pessoas idosas,
fora do que é convencionado como universidade da terceira idade. As Universidades Sêniores são criadas pelos
próprios usuários não precisando estar vinculadas a uma universidade. Também
surgem por iniciativa do município (gestores municipais) e de organizações.
Em destaque, o ponto
forte das iniciativas é a integração de estudantes, conformando um convívio
intergeracional. A convivência deve continuar após os 60 anos, não havendo quaisquer razões para a interrupção dos contatos sociais. E o desenvolvimento humano nos acompanha durante toda a vida, com capacidade para novas aprendizagens e habilidades.
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