terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Combate à violência contra o idoso e à discriminação etária

Mais visíveis durante a pandemia, a violência e a discriminação etária já eram preocupações globais. O necessário afastamento físico isolou as pessoas idosas, especialmente nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), gerando situações de vulnerabilidade extrema que mobilizaram a sociedade. Uma Frente foi criada para apresentar encaminhamentos a essas situações.

Desde então um grande número de eventos online contribuem para a prevenção e o monitoramento da violência contra a pessoa idosa. Com essa preocupação, Carla da Silva Santana, professora da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, organizou o webinário “Violência e Representação Social do Idoso: Reflexões sobre as ações de sensibilização”, realizado no dia 9 de dezembro. O evento teve o apoio do Conselho Municipal do Idoso de Ribeirão Preto, do Sesc e do Instituto de Estudos Avançados polo Ribeirão Preto da USP.

 
A iniciativa faz parte do projeto “Enfrentamento da violação dos direitos da pessoa idosa no município de Ribeirão Preto”, ligado ao USP Municípios - programa que busca apoiar cidades no desenvolvimento de políticas públicas.

Entre as muitas reflexões sobre violência contra a pessoa idosa, foram ressaltados atos de discriminação como a visão negativa que entende a velhice como fase de decadência e o idoso como “peso”, gerador de despesas e improdutivo.

O webinário contou com palestras do assistente técnico na Gerência de Estudos e Programas Sociais do Sesc São Paulo, Gustavo Nogueira de Paula, e da assistente social do Centro de Referência à Saúde do Idoso da Prefeitura Municipal de Guarulhos, Regislaine Leoncio Pereira.

Clicar aqui para a íntegra do webinário

Destacamos o livro “Idadismo, um mal universal pouco percebido”, de autoria do médico Egidio Lima Dorea, lançado este ano. Menos conhecida do que “discriminação etária”, a palavra que dá nome ao livro, “idadismo”, é formado pelo sufixo “ismo”, atribuindo conotação pejorativa à idade, como também ocorre com racismo e sexismo que se referem ao preconceito para com a raça ou sexo de indivíduo ou grupo de indivíduos. No caso da idade, é o preconceito com relação ao idoso.

Vídeo de lançamento do livro:

https://www.youtube.com/watch?v=vqeCHZDtm-E

 

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Mais além da acessibilidade física - a acessibilidade socioeconômica

A preocupação com o acesso a lugares, bens e serviços ultrapassa a prática da arquitetura e do planejamento urbano para entrar na agenda das reflexões sobre a longevidade. Mais pessoas idosas nas ruas e em suas casas colocam a acessibilidade no topo das discussões sobre como os espaços devem ser para oferecerem universalidade à demanda de moradia adequada e de locomoção segura. 

Surgido há 12 anos, o Programa Cidade Amiga do Idoso (OMS, 2008) indica 8 dimensões das cidades a serem avaliadas pelas pessoas idosas em seus pontos positivos e negativos. O Programa foi concebido na Organização Mundial da Saúde (OMS) pelo médico brasileiro Alexandre Kalache, quando era diretor do Departamento de Envelhecimento e Curso de Vida.

 As 8 dimensões de avaliação de cidades e de comunidades são: ambiente físico, transporte, moradia, participação e trabalho, respeito e inclusão social, comunicação e informação, oportunidades para aprender, apoio e cuidado.

O Guia Global Cidade Amiga do Idoso se tornou mundialmente conhecido e aplicado a cidades e comunidades. Suas três primeiras dimensões, referentes à acessibilidade física, são muito abordadas. As outras cinco dimensões remetem às relações sociais de base socioeconômica, mais complexas.

Inspirada nas dimensões propostas pela OMS, ressalto aqui outros tipos de acessibilidade necessários às boas condições de vida em qualquer idade, especialmente para pessoas idosas.

Estão listado a seguir os direitos que deveriam ser acessíveis às pessoas idosas que encontram “barreiras” em nossa sociedade.

Alimento e água são fontes de vida indispensáveis à sobrevivência e deveriam ser suficientes para todas as pessoas, em especial pessoas idosas. Barreira: disponíveis apenas para parte da população, variando segundo a localização das redes de abastecimento de água - se em área metropolitana ou em assentamentos (IBGE, 2017).

Saneamento básico é garantia de vida saudável e digna. Barreira: o sistema cobre apenas parte da população brasileira (IBGE, 2017). Segundo a Agência Brasil em 22/07/2020, “o serviço de esgotamento sanitário por rede coletora estava ausente em 39,7% dos municípios brasileiros (2.211) em 2017”.

Renda limitada ou inexistência de renda indicam expressiva desigualdade social que afeta pessoas idosas. Barreiras: há duas situações: (1) a aposentadoria do idoso representa recurso para famílias, fazendo com que disponha de valor menor para uso próprio, que inclui medicamentos e (2) idoso até 64 anos, não contribuinte do INSS, só aos 65 anos terá renda do Benefício da Prestação Continuada (BPC). Grande número de famílias recebe valor inferior ao salário mínimo (IBGE, 2010). Não é considerado no Programa Bolsa Família (complemento de renda e acesso a direitos) para famílias com renda por pessoa de até R$ 89,00 mensais; e para famílias com renda por pessoa entre R$ 89,01 e R$ 178,00 mensais, desde que tenham crianças ou adolescentes de 0 a 17 anos (Brasil, 2020).

Educação básica completa, composta por ensino fundamental e ensino médio. Barreiras: evasão escolar reduz possibilidade de desenvolvimento de senso crítico, de compreensão da realidade e de exercício da cidadania. O Estado brasileiro tem o dever constitucional de garantir educação básica gratuita, a partir dos 4 anos de idade. Em 2019, era de 31,4% o percentual das pessoas de 25 anos ou mais de idade, segundo o nível de instrução, que tinham ensino médio completo ou superior incompleto. No mesmo ano, entre as pessoas de 65 anos ou mais de idade, 69,6% não possuíam nível fundamental completo (IBGE, 2020).

Trabalho mostra que presença de profissionais 60+ é tendência emergente devido ao expressivo aumento da expectativa de vida a partir da década de 1940, no Brasil. Barreiras: Discriminação por idade com aposentadoria associada a inutilidade e conflito de gerações no ambiente laboral. Entretanto, a revista Forbes enumera “10 razões para contratar e manter trabalhadores 50+”. (Costa, 2019)

Acesso a SUS e SUAS – integrantes da Seguridade Social. Barreiras: desconhecimento dos sistemas de Seguridade Social definidos na Constituição Federal (1988) dificulta usuários na garantia de seus direitos (Martins et al, 2011).

Acesso às artes e à produção cultural. Barreiras: perdas visuais e auditivas dificultam participação social. Há oferta de modalidades de tradução audiovisual com vistas à acessibilidade aplicadas a televisão, cinema, teatro, balé, espetáculos musicais, exposições de artes plásticas (Costa, 2011).

  1. Audiodescrição - para pessoas cegas e com deficiência visual.
  2. Legendagem - para surdos e ensurdecidos.

Referências

Brasil. Ministério da Cidadania. Programa Bolsa Família. 2020.

https://www.gov.br/cidadania/pt-br/acoes-e-programas/bolsa-familia/o-que-e/como-funciona

Costa, Larissa M. Audiodescrição, transformação de imagens em palavras: tradução ou adaptação audiovisual? Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores • Nº. 22, Ano 2011 • p. 31-41.

https://abralic.org.br/eventos/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0965-1.pdf

Costa, Silvia M. M. 10 razões para contratar e reter trabalhadores 50+. Site We Age, 2019. https://weage.com.br/site/10-razoes-para-contratar-e-reter-trabalhadores-de-mais-de-50-anos/

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Censo 2010. Amostra Famílias. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/23/24161

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Estudos & Pesquisas: informação demográfica e socioeconômica. Síntese de Indicadores Sociais - uma análise das condições de vida da população brasileira. Educação (87). IBGE, 2020.

https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101760.pdf

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Abastecimento de água. IBGE, 2017. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/30/84366

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional de Saneamento Básico. Esgotamento Sanitário por Rede Coletora. IBGE, 2017. https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pesquisa/30/84366

Martins, Poliana C. et al. De quem é o SUS? Sobre as representações sociais dos usuários do Programa Saúde da Família. Ciência & Saúde Coletiva. Volume 16, Número: 3, Publicado: 2011.https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141381232011000300027&script=sci_abstract&tlng=pt

 Organização Mundial da Saúde (OMS). Guia Global: Cidade Amiga do Idoso. OMS: Genebra, 2008.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Viçosa (Minas Gerais) – uma cidade para o envelhecimento ativo e saudável

 A Universidade Federal de Viçosa proporciona iniciativas de extensão universitária às pessoas idosas de Viçosa que muito contribuem para o bem-estar e a qualidade de vida do grupo etário 60+ e de todos.


O surgimento de uma política para o envelhecimento no Brasil traz como princípio que o envelhecimento diz respeito a toda a sociedade e não apenas à população idosa. Qual o lugar onde se juntam pessoas de diferentes faixas etárias, embora mais comumente estejam lá os jovens? Sim, as universidades. Os jovens estudantes convivem com professores das mais diversas idades, em interações baseadas no acúmulo de reflexões típico do avanço da idade.

É na universidade onde as ideias germinam e o envolvimento de professores e estudantes com as mais diferentes possibilidades de temas da extensão universitária junta olhares sobre a sociedade para a seleção de problemas sociais a serem investigados, esmiuçados e conhecidos através da prática, da pesquisa-ação, da realização de eventos que conjuguem aprendizagens e oferta de oportunidades à comunidade onde intervêm.

Boas práticas de extensão universitária para pessoas idosas

Segue aqui um exemplo de iniciativas de extensão universitária com idosos, realizadas pela Universidade Federal de Viçosa, a partir de três grupos de pesquisa vinculados a departamentos e também a uma ação em parceria com uma universidade privada situada em município vizinho a Viçosa, além de colaborações com as prefeituras de Viçosa e de Ponte Nova.

Para relatar essas iniciativas, nossas reflexões se baseiam nos conceitos de ‘Longevidade’ como duração da vida, tempo de vida, duração da vida mais longa que o comum. E ‘Envelhecimento’ como processo de avanço da vida durante seu tempo de duração – o avanço da vida ao longo dos anos. Atualmente, a grande relevância da longevidade se revela no expressivo aumento da expectativa de vida nas décadas recentes, afetando a vida orgânica, com reflexos sociais.

O prolongamento da expectativa de vida explicitou características da vida orgânica antes desconhecida por que se vivia menos tempo e tornou mais premente a promoção da saúde como prática para a vida toda, para as gerações todas, de modo a preservar bem-estar e qualidade da existência – que são perdidos quando a saúde é ameaçada. A Promoção da Saúde se refere às ações para a transformação das condições de vida, entendida como “recurso para a vida e não como objetivo de viver”, que inclui “capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo” (Carta de Ottawa, OMS, 1986). Sua natureza coletiva aparece em valores expressos na Política Nacional de Promoção da Saúde, como solidariedade, corresponsabilidade e inclusão social, entre muitos outros.

Outra importante referência para iniciativas de extensão universitária é a Política Nacional do Idoso – PNI - (Brasil, 1994) em seu objetivo de “assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”. A efetividade da PNI demanda que o cidadão conheça seus direitos a fim de exercer sua cidadania.

Há muitos desafios ao bom envelhecer. Aqui vamos perpassar por dois deles, pela sua decisiva influência sobre o processo de envelhecimento, o bem-estar e a qualidade de vida. Esta seleção é um recorte dos possíveis desafios enfrentados. Há muitos outros.

Desafios Socioeconômicos

A vida individual e a coletiva dependem de diversos elementos relacionados ao financiamento da vida ou à subsistência. A listagem destes 8 desafios socioeconômicos não é exaustiva, havendo vários outros a serem enfrentados. 

 

1.      O acesso a água e a alimentos é essencial e fator de influência na possibilidade de que a vida se desenvolva satisfatoriamente e a saúde se mantenha. Estudo das 100 maiores cidades brasileiras evidenciou 35 milhões de pessoas sem acesso à água tratada (BRK Ambiental, 2020). Quanto a alimentos, o Programa Fome Zero (iniciado em 2003) amenizou a situação da má nutrição, depois seguido pelo Programa Bolsa Família. O governo federal conta com programas de segurança alimentar, sem visibilidade e sem controle social.

 

2.      A cobertura de saneamento básico impacta na higiene e nas condições de vida. O mesmo estudo acima, realizado em 100 das maiores cidades brasileiras sobre acesso a água, indica 100 milhões de pessoas sem coleta de esgotos (representando 47,6% da população) e que somente 46% dos esgotos produzidos no país são tratados (BRK Ambiental, 2020).

 

3.      A existência, ou não, de renda para os brasileiros ou o pequeno percentual do salário mínimo proporcionado a segmentos da população para atender a demandas fundamentais, requerem mais discussão do que está disponível.

 

4.      Crucial para a vida, a Educação básica completa contribui para a compreensão da realidade, o exercício da cidadania e a intervenção na sociedade. Em uma população geral estimada em 212 milhões (Agência IBGE, 2020), “a proporção de pessoas de 25 anos ou mais de idade que finalizaram a educação básica obrigatória, ou seja, concluíram, no mínimo, o ensino médio, passou de 47,4%, em 2018, para 48,8%, em 2019” (IBGE Educa, 2020).

 

5.      Aposentadoria e trabalho são extensamente debatidos em vista da tendência da permanência de grande número de trabalhadores 60+ nas empresas. O significado desse dado confronta questões como abertura de espaço para trabalhadores mais jovens (Félix, 2016).

 

6.      Infraestrutura Urbana adequada requer inúmeras “adaptações no espaço urbano com melhorias, por exemplo, em calçadas, iluminação pública e acessibilidade”, entre diversas outras (Costa, 2020).

 

7.      Moradia com instalações apropriadas pode ser atingida com a “ampliação de programas habitacionais obedecendo o percentual a ser reservado para pessoas idosas; implantação de iniciativas do tipo “Casa Segura”” (Costa, 2020).

 

8.      Falta de informação sobre a Seguridade Social e as políticas sociais dificultam o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS) e ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS).

 

Desafios Sociais

Resultados de estudos mostram “a convivência como fator positivo para o processo de envelhecimento, em contraposição à visão negativa do envelhecimento, carregada de estigmas, preconceitos, estereótipos e de atos de discriminação por idade, que podem precipitar o isolamento do idoso” (Costa, 2019). Estigmas, preconceitos, estereótipos e de atos de discriminação por idade são barreiras ao envelhecimento ativo.

Estigma é a “marca” colocada no que rejeitamos para manter afastado de nós. No caso da velhice, é melhor nem olhar para pessoas idosas por que nos lembram a proximidade da morte e que teremos características físicas que ninguém quer para si, como rugas, flacidez, lentidão de caminhar etc. (Elias, 2001).

O preconceito, por exemplo, nos leva a evitar palavras como “envelhecimento, velhice” e usar eufemismos como Terceira Idade, Melhor Idade, Envelhescente. Em muitos casos, preferimos não revelar a idade ou disfarçamos dizendo “6.0” (Birman, 2015).

Já os ‘Estereótipos Negativos’ aparecem na infantilização da pessoa idosa pelo uso do diminutivo referindo a “sua comidinha, sua roupinha”. Há uma associação à incapacidade e à infância. Além disso, a aposentadoria é vista como uma fase inútil da vida (Monteiro e Villela, 2013).

A discriminação materializa estigmas, preconceitos e estereótipos (Parker, 2013). Também chamada de ‘edadismo’, ‘etarismo’ ou no anglicismo ‘ageism’. Enfim, por meio de diversas visões negativas, discriminamos pessoas idosas.

Respostas das universidades aos Desafios

Levando em conta a preparação da sociedade para a vida longeva e suas contribuições à promoção da saúde e à efetividade de políticas públicas, há que destacar as iniciativas de extensão universitária desenvolvidas por uma universidade mineira – a Universidade Federal de Viçosa – por meio de três grupos de pesquisa de diferentes departamentos envolvidos nas ações e em colaborações com uma universidade particular além de projetos com prefeituras, conforme segue:

Universidade Federal de Viçosa (UFV)

*      Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (Gegop) vinculado ao Departamento de Administração e Contabilidade

*      Grupo de Pesquisa Risco Social e Envelhecimento (GRISE) vinculado ao Departamento de Economia Doméstica

*      Grupo de Estudos e Práticas em Envelhecimento, Nutrição e Saúde (Greens) vinculado ao Departamento de Nutrição e Saúde

Universidade Federal de Viçosa e Faculdade Dinâmica Vale do Piranga (FADIP)

Universidade Federal de Viçosa e Prefeitura de Viçosa

Universidade Federal de Viçosa e Prefeitura de Ponte Nova

Em seguida, vale conhecer a experiência portuguesa “Universidade Sênior e RUTIS (Associação Rede de Universidades da Terceira Idade)”.

A concepção de uma pesquisa sobre envelhecimento ativo levou o Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (Gegop), vinculado ao Departamento de Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Viçosa, a definir como universo da investigação os moradores de uma rua sem saída, a Comunidade do Beco, do município de Ponte Nova, vizinho a Viçosa. A coleta de informações, primeira fase da pesquisa de campo, foi uma oportunidade para a interação com os moradores da Comunidade do Beco, por meio de diversas atividades coletivas pelos participantes, que se expressaram sobre suas vidas, assim resgatando sua confiança. A iniciativa foi mais além da pesquisa, tornando-se um programa de extensão.



O período de ativa produção do Grupo de Pesquisa Risco Social e Envelhecimento (GRISE), vinculado ao Departamento de Economia Doméstica, começou com a investigação sobre a “Face da velhice em Viçosa”, desdobrando-se em atividades com as pessoas idosas, captação de depoimentos sobre suas velhices - publicados em livro-, muitos debates, dois eventos, rodas de conversa e mais dois livros. Houve contribuições de diversos palestrantes e colaborações interinstitucionais.

 


A alimentação é fundamental para que o processo de envelhecimento seja saudável e preventivo em termos de declínio funcional. O Grupo de Estudos e Práticas em Envelhecimento, Nutrição e Saúde (Greens), vinculado ao Departamento de Nutrição e Saúde, reuniu nas OFICINAS DE EDUCAÇÃO NUTRICIONAL: CULINÁRIA E SAÚDE - estudantes, professores e idosos do Programa Municipal de Viçosa para a Terceira Idade para vivenciarem o processo alimentar desde a concepção de cardápio, seleção de ingredientes com as indicações de nutrientes e valor alimentício, até a confecção de alimentos e fornecimento.

 


A colaboração entre a Universidade Federal de Viçosa (UFV) com a Faculdade Dinâmica Vale do Piranga (FADIP), situada em Ponte Nova, MG, gerou a exposição de estudantes de Fisioterapia da FADIP, na III Semana da Farmácia, promovida pela Faculdade de Farmácia em ação conjunta com a Faculdade de Fisioterapia e parceria com a UFV. Tendo a empatia como base, a iniciativa buscava responder “Por que jovens graduandos e pós-graduandos deveriam se preocupar com o próprio envelhecimento?”. Como resultado, a Oficina “Eu jovem, não me preocupo com o envelhecimento”, em dezembro de 2018, teve um relato de experiência premiado em 1º lugar no 10º Simpósio de Ciência, Arte e Cidadania, promovido pelo Laboratório de Inovações em Terapias, Ensino e Bioprodutos (Liteb/IOC/Fiocruz).

 


A UFV estabelece parcerias com as prefeituras de Viçosa e de Ponte Nova, com diversas iniciativas para a população idosa que muito contribuem para o envelhecimento local.

 



E Portugal nos ensina um novo modelo de espaço para iniciativas voltadas às pessoas idosas, fora do que é convencionado como universidade da terceira idade. As Universidades Sêniores são criadas pelos próprios usuários não precisando estar vinculadas a uma universidade. Também surgem por iniciativa do município (gestores municipais) e de organizações.



Em destaque, o ponto forte das iniciativas é a integração de estudantes, conformando um convívio intergeracional. A convivência deve continuar após os 60 anos, não havendo quaisquer razões para a interrupção dos contatos sociais. E o desenvolvimento humano nos acompanha durante toda a vida, com capacidade para novas aprendizagens e habilidades.

 

Referências

Agência IBGE. Estimativa da população para 2020. Estatísticas Sociais. IBGE, agosto 2020.

Alcântara, A. O; Camarano, A. A.; Giacomin, K. C. (org.). Política nacional do idoso: velhas e novas questões. Rio de Janeiro: Ipea, 2016. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/livros/livros/161006_livro_politica_nacional_idosos.PDF

Birman, Joel. Terceira idade, subjetivação e biopolítica. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.22, n.4, out.-dez. 2015.

Brasil. Decreto no 1.948, de 3 de julho de 1996. Regulamenta a Lei no 8.842, de 4 de janeiro de 1994, que dispõe sobre a Política Nacional do Idoso, e dá outras providências. Diário Oficial da União, 4 jul. 1996. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/d1948.htm

BRK Ambiental. Saneamento básico no Brasil: conheça os números das regiões do país. Site. 2020. https://blog.brkambiental.com.br/saneamento-basico-no-brasil/

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Promoção da Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. – 3. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010. http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nacional_promocao_saude_3ed.pdf

Costa, Silvia M. M. Municípios para um Brasil Amigo da Pessoa Idosa. Blog Sociedade e Promoção da Saúde. 2020. https://sociedadepromosaude.blogspot.com/2020/10/municipios-para-um-brasil-amigo-da.htm

COSTA, Silvia M.M. Mais além da vida orgânica: a convivência como fator de prevenção do isolamento social dos idosos e de promoção da saúde. 2019. 157f. Dissertação (Mestrado em Ensino em Biociências e Saúde). Instituto Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, 2019.

Costa, Silvia M. M.; Nebot, Carmen Pineda; Martins, Simone; Ribeiro, Andreia Queiroz. Boas práticas de extensão universitária para pessoas idosas. Coleção Gerontologia e Educação. Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Editora da PUC Goiás. 2020.

Elias, Norbert. A solidão dos moribundos, seguido de Envelhecer e morrer. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar. 2001.

Félix, Jorge. O idoso e o mercado de trabalho. In ALCÂNTARA, A. O; CAMARANO, A. A.; GIACOMIN, K. C. (org.). Política nacional do idoso: velhas e novas questões. Rio de Janeiro: Ipea, 2016.

IBGE Educa. Educação. IBGE, 2020.

https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-brasil/populacao/18317-educacao.html

Monteiro, S e Villela, W. (orgs). Estigma e Saúde. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2013

Organização Mundial da Saúde (OMS). Carta de Ottawa. In: Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, 1., 1986, Ottawa.

Parker, R. Interseções entre estigma, preconceito e discriminação na saúde pública mundial. In: Monteiro, S.; Villela, W. (org.). Estigma e Saúde. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2013.

 

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Espaço Urbano e Transporte Público de Passageiros – mobilidade deve ser boa para todos


 

 

 Não tenho dúvida de que o estudo de 2013, se feito hoje, teria o mesmo diagnóstico sobre o Transporte Público de Passageiros, conforme segue.

 

 

 

*  Práticas dos profissionais do transporte de passageiros: parada fora do ponto com prejuízo ao trânsito; velocidade excessiva pela falta de limitador nos veículos; conversa alta e descontraída entre motorista e cobrador durante a viagem; interrupção do trajeto para compra de lanche ou uso de banheiro.

 

*  Condições de trabalho dos profissionais: quantidade excessiva de horas; poucas pausas para uso de banheiro e para alimentação; desconhecimento da legislação sobre a gratuidade e intolerância com os idosos, estudantes e deficientes; pressões sobre o motorista advindas dos passageiros, supervisores, despachantes e donos de empresas.

 

*  Problemas de infraestrutura urbana: os terminais de transição de rotas não são planejados e instalados de maneira adequada ao uso pelos profissionais – em geral se situam em local aberto, não edificado, sem cobertura e facilidades para intervalo de descanso, alimentação e banheiros apropriados; os ônibus são construídos com carrocerias de caminhão, sem amortecedores suficientes (diferente de suspensão) e feitas para carga delicada com alto investimento.

 

*  Influência das relações sociais: defesa de interesses individuais; atitude dos passageiros mais jovens diante da entrada de um idoso; indiferença de motorista e cobrador em relação às limitações de idosos e deficientes; foco na pressa; visão de poder do passageiro pagante e do motorista à frente de veículo mais potente que os demais.

 O estudo denominado “Projeto Transporte Amigo do Idoso – TAÍ” envolveu setores da sociedade civil empenhados na melhoria da mobilidade urbana. O motorista de ônibus foi escolhido como elemento propulsor das reflexões a serem propostas para todos os operadores do transporte público coletivo. Os resultados acima foram consolidados pelo “Comitê Intersetorial” do Projeto TAÍ, formado por organizações do setor de transporte e dos governos estadual e municipal do Rio de Janeiro, além de entidades acadêmicas, empresas privadas e colaboradores individuais.

 

Esses resultados, assim como de uma pesquisa, foram encaminhados a autoridades, sem qualquer providência.

 

Saiba Mais: Relatório Transporte Amigo do Idoso