Que filme é Felicidade?
Drama de Todd Solondz, EUA/1998, de nome original “Happiness”. Ao assistir o filme, o espectador pode considerar como perdedores os personagens de Felicidade, nestes tempos em que, para fugir ao fracasso com relação a certas conquistas, assiste-se televisão, busca-se o entretenimento, escapa-se da arte favorecedora de fruição e reflexão. E se tende ao tédio e à perversão. Como integrantes de uma sociedade cujas referências se concentram no acesso a bens de consumo através de ascensão socioeconômica, os personagens tentam encaminhar suas vidas.
Desse ponto de vista, a irmã escritora (solteira) é bem sucedida. Fama, dinheiro, beleza, consumo de seu trabalho. Mas, o filme afirma que isso não basta, pois ela está insatisfeita com a qualidade do que escreve, reconhecendo ser uma obra facilmente vendável devido às concessões que faz ao mercado. Então, ela fantasia: precisa experimentar em si mesma o que é um estrupo para escrever melhor sobre isso. Ela aparenta ter feito a opção por ser uma “comedora de homens”, um papel antes exclusivamente masculino e hoje almejado por várias mulheres. Porém, um olhar mais detido descobre que ela substitui a necessidade de afeto pelo desejo de ser estuprada. Também aqui uma insatisfação com a vida – o não alcance da felicidade. Esta irmã está presa a uma idealização de mulher independente.
Também do ponto de vista socioeconômico, a irmã casada é bem sucedida. Ela tem uma vida e uma casa confortáveis, marido e filhos bonitos (inteligentes, “normais”, sociáveis). E, também neste caso, o filme afirma que isso não é suficiente, pois ela quer convencer a irmã caçula, Joy, a buscar uma vida mais satisfatória. Quando usa a própria vida como exemplo, soa falsa, estranhamente afetada e sem convicção. A razão disso vem logo em seguida: sua relação com o marido não inclui o prazer do contato sexual. E, depois, o espectador descobre que o marido se debate para resistir à pedofilia. Uma mulher que investe tudo na organização da vida familiar, microcosmo da sociedade, não admite um provável crime de seu marido. Inevitavelmente acontece. Esta irmã está presa a uma idealização de mulher casada.
A alegria ligada ao nome de Joy aponta para uma visa quase libertária. Quase, por que ela tenta ser o que as irmãs acham que ela deve ser. Se não, ela seria livre. Então, se livra do namorado gordo, que não é bonito como o marido da irmã casada. Se livra do emprego que adora, por que não tem o glamour do trabalho da irmã escritora famosa. Brinca com o bebê da irmã para sentir-se próxima da maternidade. Espera que um homem lhe telefone no sábado à noite, como fazem homens para sua irmã escritora. Ao mudar de emprego, não consegue posicionar-se quanto à sua atitude quanto à greve, que ela prejudica. Falta-lhe visão de mundo. Afinal, ela não se manifesta contra a influência dos desejos das irmãs, que desejam por ela. A mãe conspira com as irmãs para que Joy não saiba das “más notícias”, assim atribuindo-lhe uma ingenuidade que Joy assume em seus relacionamentos amorosos. Basta uma música romântica ao violão para despertar-lhe um impulso de paixão. Esperança nesse homem. Frustração com ele. Esta personagem está presa a uma idealização das idealizações.
Joy sintetiza as idiossincrasias de todos os personagens do filme. À inadaptação de cada um corresponde um desajuste dela. Com essa construção da história, a felicidade fica inalcançável diante da complexidade humana. A quase liberdade de Joy seria a quase felicidade?
Análise do filme escrita em 1999.
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